quinta-feira, julho 19, 2007

Dizem por aí

Dia 33: histórias e estórias

DIZEM POR AÍ que a Guiné Equatorial admite adoptar o Português como língua oficial para poder entrar na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Curioso que na Wikipedia, este pequeno país Africano de meio milhão de habitantes, já apresenta como línguas oficiais o Espanhol, o Francês e ... o Português. Quererá a Guiné copiar o exemplo moçambicano? Moçambique é membro de pleno direito da CPLP, da Commonwealth, da Organização Internacional da Francofonia (OIF) e da Organização da Conferência Islâmica... mas para já, na Wikipedia, apenas o Português surge como idioma oficial de Moçambique.

DIZEM POR AÍ que 44 brasileiros foram detidos na Catalunha por falsificar documentos para emigrantes ilegais. A documentação falsificada era nem mais, nem menos que os “velhinhos” B.I.s Portugueses. Não! Não vou cair na crítica fácil, e afirmar que a responsabilidade por esta rede de falsificação é das autoridades Portuguesas,por ainda possuírmos um documento de identificação nacional obsoleto. Afinal os únicos culpados são os tais 44 indivíduos que se aproveitavam do desespero de compatriotas que procuravam novas oportunidades na Europa. Na verdade, o projecto-piloto do novo B.I. já está a decorrer nos Açores, e lá para 2008, o resto da malta já poderá ter o seu ( haverá inclusivé um leitor desktop (13,5€) que nos permitirá ter uma assinatura digital qualificada, entre outras funcionalidades electrónicas)... e depois DIZEM POR AÍ que somos incompetentes...anda ya!

DIZEM POR AÍ, mais concretamente, nas conclusões da quarta edição do estudo “La inversión extranjera en el área de Barcelona”, que as principais cidades europeias que concorrem com Barcelona para captar investimento estrangeiro são Paris, Milão, Londres, Franquefurte e... Lisboa! Ah pois é! O mais mediático foi o Global Network Solutions Center da Nokia-Siemens, mas há mais.

Não DIZEM POR AÍ os jornais nacionais Portugueses nada sobre a primeira viagem oficial ao estrangeiro do president de la Generalitat, a convite do Estado Português. A Catalunha é um dos parceiros comerciais mais importantes de Portugal. Somos o quarto cliente das exportações catalãs e as importações catalãs procedentes de Portugal foram superiores a 1.700 milhões de euracos (uns trocos)… Para não falar nos milhares de lusos que vivemos na Catalunha. Por outro lado, os periódicos catalães e do resto de Espanha sim que DIZEM POR AÍ que o o Montilla vai estar em Portugal e a razão de tal visita, os acordos estabelecidos…chegam ao ponto de publicar um artigo do Embaixador Português em Espanha (Catalunya-Portugal, menos distancia no El Periodico) expondo os motivos da deslocação do Montilla a Portugal. Desta vez, um aplauso de Can Portugal para a imprensa Espanhola e um "calduço" para a Portuguesa (já estão a pensar nas férias ou quê?!).

terça-feira, julho 17, 2007

Os Putos e o Homem das Castanhas vêm à Catalunha

Dia 32: Carlos do Carmo em Cardedeu

Poderia falar sobre os acordos alcançados entre os governos português e catalão para a producção de uma série de documentários históricos, sendo que o primeiro se chamará “1640” e que retratará a restauração da independência. Mas não o farei!

Poderia felicitar José Saramago e Pilar del Rio pela segunda celebração do seu matrimónio, 20 anos depois da primeira vez, e desejar-lhes umas boas núpcias … aproveitando a oportunidade para sugerir ao "amigo" Saramago que não perca, por razão nenhuma neste Mundo, a estreia do documentário luso-catalão ( Já sei Zé! Estes enfadonhos Portugueses e catalães que não compartem a ideia de uma Iberia governada por Castela). Mas não o farei!

Em Can Portugal apenas queremos dar as boas-vindas ao Carlos do Carmo, que na próxima Sexta Feira estará no Centro Cultural de Cardedeu, sendo que esta será a sua primeira actuação na Catalunha. Esperemos que Os Putos e O Homem das Castanhas se despeçam por uns dias da Lisboa, Menina e Moça. E que a viagem desde o Mar Português, provavelmente, em Canoas do Tejo corra bem… Só há que seguir a Estrela da tarde em direcção a leste que logo, logo chegareis à Catalunha. Benvindo Carlos! Benvingut!

segunda-feira, julho 16, 2007

Yo soy Pepe de Iberia!

Dia 31: Um rol de utopias

Estava a Segunda Feira reservada para comentar uma reportagem, no programa Totunmon da TV Catalunya, sobre A Casa Portuguesa, quando surge o destino, disfarçado de José Saramago, a ditar que o 16 de Julho em Can Portugal se tornasse um rol de utopias.

Utopia na Literatura:
-Los Iberíadas de Luis de Camones:
" Las armas y los barones asinalados
Que de la Ocidental playa Iberica..."

-El Mensaje de Fernando Persona:
“Ó Mar ibérico,
Cuanta de tu sal
és de la província de Pórtugal…”

Utopia na Wikipedia:
Portugal es una comunidad autónoma ibérica situada al occidente de la Península Ibérica. (...) La capital de Portugal es la ciudad de Oporto (en portugués y gallego Porto), desde 2008 (…)Portugal es reconocido como nacionalidad en su Estatuto de autonomía, al amparo de lo dispuesto en el artículo segundo de la Constitución ibérica, que reconoce y garantiza el derecho a la autonomía de las mismas. En el consenso sobre la proposición de nuevo Estatuto de autonomía, el Paralamento de Portugal aprobó, de forma ampliamente mayoritaria, la definición de Portugal como una nación. Sin embargo, el Parlamento ibérico enmendó esa propuesta y excluyó la definición de nación del articulado del nuevo estatuto (aunque sí hace referencia en el Preámbulo a lo que en su día aprobó el Parlamento portugués). A juicio del Gobierno ibérico, y del partido gobernante que respaldó su aprobación, el texto del preámbulo solo tiene valor declarativo y no tiene valor jurídico, ya que la Constitución reconoce únicamente a la «Nación Ibérica» (art. 2).


Utopia nos livros de História dos alunos Ibéricos:
“Don Alfonso Enriquez y Don Juan II (entre muchos) han sido traidores de la nación Ibérica(…)el nombre de baptizo de Don Sebastián I de Ibéria, II de Portugal, era José Luis Rodríguez Zapatero(…) Actualmente toda la America de Sur es hispano hablante … en Brasil se habla castellano con acento brasileño.”

Utopia no desporto:
La selección Portuguesa de hockey patines ha Ganado el Mundial B de la categoria, sin embargo, no poderá jugar en el Mundial A por incompatibilidad con la selección ibérica.

Utopia na imprensa:
-No “Diário de las Notícias”:
El premio Nobel de literatura José Saramago cree que Iberia acabará por convertirse en una comunidad autónoma más de Francia, con el mismo rango que Alsacia, Corsega o Normandia, integrándose así en un país nuevo, que se llamaría "probablemente" Estados Unidos Ibero Franceses (E.U.I.F.) para que el nombre de Francia no ofendiese "los bríos de los ibéricos".
El escritor exilado en la isla de Corsega afirma que los ibéricos aceptarían la "integración territorial, administrativa e estructural" con Francia si fuese bien explicada: "Con 50 millones de habitantes, (Ibéria) tendría todo que ganar en cuanto a desarrollo, y no sería una cesión ni acabar con el país, continuaría de otra manera. No se dejaría de hablar, de pensar y de sentir en castellano, (...) y no seríamos gobernados por franceses, habría representantes de los partidos de ambos países en un parlamento único con todas las fuerzas políticas de los E.U.I.F.” (...)

-No jornal "El Juego":
El ibérico Quaresma se ha convertido en el 5º fichaje del Real Madrid. El ex del Fútbol Club de Oporto (F.C.O.) (...)

Uff! Já chega! E num imediato e desejado regresso à realidade, Can Portugal aplaude o êxito da Leonor Castro e da sua casa, umA Casa Portuguesa concerteza!

P.S. ( ao Saramago):
Então Zé! ( desculpa, reformulo a introdução,“Oye Pepe!”)
Como vão as coisas aí em Lanzarote? Agora que isso do exílio já está um pouco démodé, tiveste tu de fazer uma birrita para conseguires um “exílio”, não é? E que tal? Tens ar de quem se aborrece nesse semi deserto.
Bem! Antes demais, queria dar um Viva à liberdade de expressão (em Português)!
Estava a ler a tua entrevista ao DN e comentava com a minha patroa: o Joselito devia ter mais cuidado com as expressões idiomáticas. Quando se diz que “a união faz a força” não significa que temos de unir-nos politicamente para ser mais fortes, ou seja ser governados por Castela ( és um utopista (se calhar na versão portuguesa do comunismo utópico) se pensas que algum dia a tua Iberia funcionaria sem o governo de Castela; “isso é que era bom” diriam eles).

Acredito na cooperação económica, senão mira que bem têm funcionado o Benelux e a Escandinávia. Apesar disso ninguém interfere no petróleo da Noruega, nem na legalização das drogas na Holanda, isso é coisa deles. Por isso tem cuidado Pepe! Por exemplo, quando eu te digo para “pendurares as botas”, não quero com isto dizer que pegues nas botas e as pendures no cabide, entendes?

De qualquer das maneiras, a entrevista ao DN tem algum mérito. O mérito de despertar a apatia nacional para seguir pá frente com a carroça... A nossa carroça tem duas rodas ( como todas) e uma boa parelha de bois a puxá-la, e não é preciso que venha um espanhol picar os bovinos, nós também poderemos fazê-lo. Até porque já deverias saber como são “nuestros hermanos”... com um bocado de boa vontade, tiravam-nos a carroça, toureavam-nos no Campo Pequeno e, no final, cortavam-nos as orelhas e o rabo.

Sabes que isto de viver no estrangeiro não é fácil, ao contrário do que a malta possa pensar “que lá fora é que se tá bem”. A nossa missão de emigras é aguentar algumas boquitas de dentro e, simultaneamente, defender Portugal cá fora. Não é fácil, já sei, mas deixa lá que há quem viva pior.

Ainda não acredito nas tuas palavras, sabes?! Essa tua ideia de União Ibérica já não é original, se bem te lembras ( se calhar não te lembras tão bem) já tivemos uma União Ibérica entre 1580 e 1640 e não me parece que os tugas da época fossem mais felizes por isso. E logo vindo de ti, um anti-europeísta convicto!!! Iberia sim, Europa não! No te jode? A mim sim, e muito!

quinta-feira, julho 12, 2007

Arquitecturas e Música em Palco

Dia 30: Sugestões de Verão

Para uma grande maioria, Barcelona é implicitamente sinónimo de Gaudí ( Sagrada Família, La Pedrera, Casa Batlló, Parc Güell). Mas também há Calatrava (Anel Olímpico de Montjuïc), o tal arquitecto da Gare do Oriente, Isozaki (Palau de Sant Jordi ) ou Gehry (el Peix de Gehry, Passeig Marítim). Resumindo, Barcelona é a capital da arquitectura europeia. Tanto estas obras permanentes como as mostras temporárias dão à cidade uma energia vigorante.
E é neste contexto que entra João Mendes Ribeiro, um coimbrinha como eu, que apresentará no FAD (Plaça dels Àngels, 5-6), o seu último projecto “Arquitecturas em Palco”, apartir de hoje até ao dia 7 de Agosto (entrada livre). A Mendes Ribeiro estão associados trabalhos como os quiosques da Expo’98, a Casa de Chá no Castelo de Montemor-o-velho ou o Centro de Artes Visuais de Coimbra. No entanto, é como cenógrafo que este arquitecto é um reconhecido especialista, apresentando uma obra meritória ( destaque de Can Portugal para o cenário de “Uma Visitação” de Gil Vicente, simplesmente brilhante ou brilhantemente simples – ver foto de João Mendes Riibeiro).

Ainda sobre o palco, está a decorrer o XVI Festival Internacional de las Culturas , Pirineos Sur. Este ano, os Portugueses presentes serão os The Gift e Teresa Salgueiro. Quem não teve a oportunidade de vê-los em Barcelona este ano, poderá dar um saltito até Auditório Natural de Lanuza ( um cenário flutuante) no próximo dia 20 de Julho. Como alternativa à música portuguesa, haverá grupos de Inglaterra até ao Malí, dos Estados Unidos ao Paquistão. Can Portugal recomenda!

quarta-feira, julho 11, 2007

Portugal na TV Catalunya

Dia 29: Afers Exteriors

Ontem Portugal foi o país de destaque no programa Afers Exteriors ( Assuntos Exteriores) na TV Catalunya. Afers Exteriors já vai na sua 4ª temporada e é apresentado por Miquel Calçada (conhecido comumente por Mikimoto e pioneiro dos late night shows catalães, antes de Manel Fuentes, Buenafuentes e Cª.).

O formato do programa é muito similar ao de Duti Fri de Telecinco, (na verdade, a haver plágio será da parte do tal Duti Fri), mas sem as “palhaçadas” de Javier Sardá (apresentador do programa de Telecinco).

Mikimoto vai à procura de catalães que vivam nos países visitados ou nativos que, por uma ou outra razão, tenham laços com a Catalunha. E é através dos olhos, dos ouvidos, das experiências e das sensações destas pessoas que faz um retrato dos países em questão.

É um producto para consumo interno, que se foca bastante nos catalães residentes no estrangeiro… é como ir a um restaurante Português, onde somos servidos por um Jordi (empregado catalão), e onde o importante não é o tinto Esporão que bebemos, ou o Bacalhau à Zé do Pipo que comemos, mas antes as motivações, as ilusões, as contrariedades do Jordi por trabalhar no restaurante Português.

Consciente de que o público alvo é o público catalão, o programa acaba por se revelar interessante… a mirada catalã sobre Portugal foi personificada por um médico (com um nível de Português oral invejável) e pelo Director da Panrico em Portugal. Também a Joana Pupo, actriz que estudou artes de palco em Barcelona, foi anfitriã de Mikimoto e traçou uma agradável rota pelo mundo do fado e da saudade.

Umas últimas linhas para a localidade de Azaruja, uma gota catalã nesse oceano que é o Alto Alentejo, onde os emigrantes do sector da cortiça de finais do séc. XIX deixaram rasto até aos dias de hoje - a origem do apelido Surera, da família que explora a cortiça nesta região, provêm da palavra suro (cortiça em Catalão).

P.S.- Depois de Aveiro, agora é o Douro (e as suas pousadas) a merecerem a atenção do NY Times ( clickar aqui para aceder ao link). Very nice!

segunda-feira, julho 09, 2007

Montilla Backpacker

Dia 28: Montilla viajará a Portugal (notícia do El País)

A notícia começava assim: “Num gesto inaudito de austeridade, o presidente da Generalitat José Montilla decidiu utilizar companhias áreas de baixo custo para viajar oficialmente a Portugal, dentro de dez dias...” Eh lá! Isto promete... segredei eu com os meus botões.

E continuava o texto: “...Um portavoz da Generalitat assegurou ontem que o presidente não descarta que as suas futuras viagens oficiais as continue a efectuar em companhias de "baixo custo" com base no aeroporto d’El Prat em Barcelona (leia-se Vueling e Clickair), "uma vez que estas têm demonstrado eficácia e competência "...” Ó senhor portavoz, olhe que não, olhe que não! Por experiência pessoal e por relatos que me têm chegado aos ouvidos, isso da eficácia cheira-me a patranha, mas “siga pa bingo” que a notícia ainda não chegou ao fim.

Seguindo com o artigo: “...Para além disso, Montilla decidiu ficar instalado na residência do embaixador espanhol em Portugal, para poupar do erário público os gastos de hotel.” Aí está! A cereja no topo do bolo! O homem descobriu o modus vivendi de qualquer estudante Erasmus fazendo backpacking (ir de mochila às costas pelo Mundo): primeiro buscar o vôo mais barato por internet e depois “cravar” um pedaço de chão na casa dum amigo que vive na cidade de destino... “Então pá? Que tal aí por Lisboa? Isso é fixe, meu? Tás a curtir? Ouve lá! Tava a pensar ir passar uns dias a Lisboa, uns amigos contaram-me maravilhas de um tal Bairro Alto e tava numa buscar alojamento barato. Não me deixas dois m2 de chão da tua embaixada para passar a noite, não? Com o que pouparia de alojamento poderia depois beber umas jolas... mas se não te dá jeito, aconcelha-me algum albergue cool pa ficar, tá?” inquere o Montilla man ao seu amigo Embaixas.

E agora um rol de comentários extra sobre a notícia:
1) Esta é a prova final da fama de tacaños (furretas) dos catalães, em toda a sua plenitude. A propósito:Como se metem a 300 catalães num Fiat Seiscentos ? – Atirando uma moeda de 5 cêntimos lá para dentro. E como os tiras de dentro do Seiscentos ? - Dizendo que é um táxi.

2) Pode ser que com esta iniciativa do Montilla, os atrasos da Clickair e Vueling sejam cada vez menores. Mas pensando melhor, o mais provável é que estes atrasos apenas não aconteçam nos dias em que o Montilla viaja ( em Can Portugal designamo-la por lei do Radar, conduzir sempre a 170km/h, à excepção nos tramos em que há control por radar).

3) Montilla, vê lá se deixas algum pilim em Portugal... Anda um gajo aqui a promover o país para depois ficares em casa dos amigos para não gastar muito em Portugal? Pelos menos vai tomar uns copos com o que poupas, e se és abstémio, compra uns 30 ou 40 galos de Barcelos para o pessoal da Generalitat... vais ver que a malta começa a olhar-te como “um chefe porreiro”. Boa Viagem!

sexta-feira, julho 06, 2007

O Aniversário

Dia 27: Queres um café?

6 de Julho de 2007. São as 14:43. Ainda não são as três. O vôo das doze desde Barcelona, invariavelmente atrasado, foi hoje a excepção que confirma toda a regra. Será a primeira vez em 5 anos que passarei o seu aniversário em casa. O café Santa Cruz é o ponto de encontro. Não podia concordar mais com a escolha. A par do Majestic, d’A Brasileira, do Martinho da Arcada, o Santa Cruz é um desses bastiões que vão resistindo contra os pubs, os fast food, a vida stressante do “corre corre”.

São as 14:44, entro decidido a pedir uma Super Bock, será um bálsamo de frescura para aliviar os 33 graus que se fazem sentir nas ruas da Baixa. Tudo continua igual, os vitrais de inícios do século passado, toda a iconografía de cariz cristão, como não?!... o cordeiro, a flor de lótus, o sol e a lua continuam ali, ano após ano, ora admirados, ora ignorados. Escolho uma mesa cêntrica, ladeada, à direita, por um reformado e o neto, à esquerda, um magala que passa os olhos pelas páginas d’A Bola, “Quaresma sucessor de Futre” pode ler-se na portada.


“Sabes André!” diz o avô do André – “…o tal Kaldi viu que as suas cabritas ficavam mais espertas ao comer os frutos do cafeeiro. Assim ele também os quis experimentar e reparou que ficava mais acordado pelas noites. O pastorito e as suas cabritas viviam numa terra que se chamava Kaffa, e por isso se chama café (acentua a primeira sílaba Cá-fé) aos grãozitos daquela planta”. A lenda que conta o velho não está de todo correcta, já que a origem da palavra café, vem do árabe qahwa, que significa vinho, mas o André parece satisfeito com a versão do avô. Pronto! A Super Bock acaba de ser substituída por um café. “Uma bica por favor!” reclamo ao empregado de mesa, que nem me tinha visto ainda, afinal, a ida do Quaresma para o Atlético de Madrid é mais importante. A palavra "bica" fica a ecoar na minha cabeça, como a voz do empregado de mesa nas abóbodas do Santa Cruz ... apesar de ser maior a proximidade do Porto que a de Lisboa, em Coimbra a terminologia cafeeira é a mesma que a da capital. O cimbalino é uma bica, e o pingo soa garoto - esse detestável cortado, que os espanhois tanto gostam.

“Aqui tem o seu cafezinho.” diz-me com simpatia. "A cultura portuguesa pasa pelo café. Os portugueses sabem beber café", comentava noutro dia nas páginas de um jornal Jaime Soares da Silva, o dono d’A Brasileira. Palavras sábias. Não é o mesmo pedir uma bica, um carioca ou uma italiana, e tampouco é o mesmo beber uma bica, um carioca ou uma italiana… e isso do garoto é para os miúdos (ou para espanhois) que não devem beber café, é uma espécie de café para garotos. Que saudade tinha deste sabor amargo, assim sem açucar… isso de adicionar açucar só poderia ter sido invenção dos Franceses mesmo, lá para o reinado de Luis XIV. Pela textura diria que o café é marca Delta ou Sical, o logotipo da bahiana na xícara desfaz-me a dúvida.

“…os árabes, e depois os portugueses, espanhois e ingleses levaram o café para todo o mundo…” continua o avô do pequeno André, que a estas alturas, já não parece muito interessado no tema, e concentra toda a sua atenção num pastel de nata que come com uma colher pequena.

São quase as três. A esplanada está repleta de turistas. O mesmo cenário, o Santa Cruz, mas com actores diferentes. Aquelas paredes, otrora testemunhas das tertúlias dos intelectuais coimbrinhas são agora ouvintes, mais ou menos atentos, das conversas em español, français, english ou italiano.

São as 15:02, entra! Chega coradita, apesar de ter nascido em Julho, nunca suportou muito bem o calor. Vê-me, dirige-se até mim… reparo que tem enganado bem as diabruras da idade nestes 52 anos. “Parabéns, velhota!” digo-lhe com carinho. "Velhota?!" riposta com ar pícaro. Duas beijocas. Sabendo que, como a maioria dos Portugueses, sabe beber e disfrutar do café, faço-lhe a pergunta retórica do costume: “Queres um café?”

quarta-feira, julho 04, 2007

São rosas, Senhor! São rosas!

Dia 26: Feriado em Coimbra e algumas coisitas mais...

Hoje é o 4 de Julho, o 185º dia do ano no calendário gregoriano. Celebram os yankees o seu Independence day, faz 200 anos que o Garibaldi nasceu, 54 anos que o Piazzolla morreu e, como não, é festa lá na “terra". Hoje é o dia da Rainha Santa, Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal, padroeira da Coimbra dos meus amores. O Milagre das Rosas (que ao que parece já vinha de família, uma vez que a tia-avó da Isabelita, Isabel da Hungria, já era célebre pelo mesmo milagre﴿ é mais velho que o cagar... por isso poupo-me ao trabalho de relatar a lenda. O que descobri, passados todos estes anos da minha existência, é que a Isabelita se casou por procuração com o rei D.Dinis, em Fevereiro de 1288, na cidade - e aí vem a “bomba” – de Barcelona!!! O bodório celebrou-se depois, em Junho do mesmo ano, lá para os lados de Trancoso.

E agora algumas coisitas mais:

Tal como aconteceu em Portugal, também em Espanha, realizaram um progama para eleger a personalidade mais importante de sempre do país. Em Portugal, “escolheram” Salazar como o melhor português de sempre... polémica “escolha”, mas mais polémico, do meu ponto de vista, é que tal eleicção, para um país com 900 anos de História, assente em termos tão simplistas como “o melhor de sempre”... Se já é ridículo comparar o Eusébio com o Cristiano Ronaldo, o que dizer de uma comparação de Salazar com D.João II... Mas voltanto a Espanha, “nuestros hermanos” ( que raio de expressão! Sou casado com uma espanhola, quer isso dizer que pratico incesto???!!!﴿ colocaram a Cristovão Colombo como 3º melhor "espanhol" de sempre, ora!, se se prova que o homem era português ( a teoria mais lógica de todas as que li﴿, o 3º melhor "espanhol" de sempre era... Português!

Esta semana descobri na secção Travel, do NY Times, uma reportagem fotográfica intitulada "A New Culture Takes Hold in Aveiro, Portugal". O tema da reportagem é óbvio, e a qualidade fotográfica muito boa... vale a pena a visita ao site (clicar no link e ir até ao final da página no NY Times﴿.

E seguindo em Aveiro, esta Sexta, Mariza e Gilberto Gil darão um concerto conjunto no Estádio Municipal. O melhor da música Portuguesa e da música brasileira, Can Portugal recomenda!

P.S. A imagem acima é um óleo da artista brasileira Maria Clarice Sarraf, "Rainha (Santa) Isabel de Portugal".

terça-feira, julho 03, 2007

A lebre e a tartaruga

Dia 25: O herói e o anti-herói

A lebre e a Tartaruga:
Era uma vez uma lebre que tinha tanto de veloz como de convencida.
Uma tartaruga que, no seu lento caminhar, ouviu tanta “gabarolice”, acabou por desafiar a vaidosa lebre:
– Eu tenho a certeza de que, se apostamos uma corrida, eu serei a vencedora.
A lebre, inicialmente, incrédula com as palavras da tartaruga, partiu o “côco a rir”:
– Uma corrida? Eu e tu? AHAHAHAHAH! "Tá bem abelha"!
– Será que cheiro a medo? – ripostou o cágado.
– É mais fácil choverem vacas do que eu perder uma corrida contigo, mas já que insistes… – respondeu a lebre.
No dia seguinte, as duas colocaram-se no ponto de partida. Bastou soar o sinal de largada para a lebre desaparecer no horizonte. A tartaruga, entre o rasto de pó deixado pela lebre, deu início à sua carreira.
A lebre estava tão segura de que seria a vencedora que decidiu fazer uma sestazita:.
"Se aquela pisa-ovos me ultrapassa, é só correr um pouco que a alcanço na boa" – pensou.
A lebre dormiu tanto que nem se apercebeu quando a tartaruga a passou. Quando acordou, e se deu conta da situação, já não foi a tempo de remediar o sucedido.

Outra lebre e outra tartaruga
1978, dois países da África Ocidental, ambos compartindo a vizinhança dos Camarões e dando os primeiros passos e trambolhões de uma indepêndencia de tenra idade. No primeiro país, Nigéria, nasce uma lebre chamada Francis. No entanto, o uníco que une Francis e a lebre da fábula de Esopo é a sua velocidade. Aos 16 anos, Francis refugia-se em Portugal depois de representar a selecção nigeriana de juniores nos Campeonatos de Lisboa. Tudo apontava para que Francis fosse mais um exemplo do africano procurando a sorte na Europa, realizando trabalhas físicos e duros, ilegal e convivendo com realidades crueís. Na verdade, os primeiros anos foram assim, trabalhou como trolha, viveu na rua, e só a sua determinação e amor ao atletismo fizeram com que hoje seja um dos desportistas Portugueses mais admirados. Até o seu processo de naturalização foi um calvário... (ai Francis, se fosses futebolista!) Foi campeão Europeu e Mundial, e pelas medalhas olímpicas que conseguiu, alcançou o estatuto de herói. Apesar de tudo é um tipo porreiro e humilde de caractér, e por essa razão nunca poderia ser a lebre que La Fontaine recontou.

No segundo país, Guiné Equatorial, e igualmente no ano de 1978, nasceu Eric. Com 21 anos, aprendeu a nadar numa piscina de 20 metros num hotel de luxo. Graças a um wild card oferecido a atletas de países carenciados de estructuras desportivas, e 6 meses depois de ter sentido o cloro de uma piscina pela primeira vez, Eric pôde participar numas Olimpíadas. Nadando sozinho (os outros dois atletas foram desqualificados), os 112 segundos que durou a sua prova ( o recorde mundial é de 47 segundos) foram os mais aplaudidos de todo o evento e os mais angustiantes para Eric (segundo ele, nunca se cansou tanto em toda a sua vida). Esse mais de minuto e meio garantiu-lhe o título de anti-herói das olímpiadas, e hoje, é conhecido em todo o Mundo, mais do que o nadador que atingiu os 47 segundos na mesma prova! Duas lebres, duas tartarugas, dois africanos, um herói, um anti-herói.... por um lado, a admiração do primeiro Mundo pelo esforço e pelo sacrificio, por outro a compaixão no seu estado mais puro, uma espécie de racismo nobre e caridoso.

Francis, de apelido Obikwelu, é um tipo feliz, faz o que gosta, está rodeado daqueles que quer, vive num país tranquilo e onde é admirado ( mas onde também sofreu – convem não esquecer).

Eric, tampouco é uma personagem fictícia. Existe, chama-se Eric Moussambani, conseguiu baixar o seu tempo pessoal nos 100 metros livres para menos de 1 minuto, mas não pôde participar nos Jogos Olímpicos de Atenas por questões burocráticas ( que ironia!), desenvolveu o novo estilo de natação, o “cachorrinho”, e ainda hoje tem um clube de fãs.

Moral da história: Nunca apostes uma corrida com uma tartaruga!