quinta-feira, agosto 30, 2007

Phosca-se para tanta demagogia!

Dia 40: É hora de ação

Tinha um professor da faculdade que, por norma, gostava de examinar individualmente os alunos durante as aulas. A vítima, escolhida ao acaso, deveria dirigir-se ao quadro que então ganhava contornos de muro de fuzilamento. Fui testemunha e réu deste singular tribunal em varias ocasiões, sendo que a pena mais comumente aplicada era a humilhação perante o dito juiz e os restantes colegas de curso.

No dia do meu juízo, o momento chave para provar a minha “inocência” foi quando me disse “escreva aí no quadro as consequências da crise de 29”... uma delas era a elevada inflação...Ah! Ah! Escapei à ratoeira, i-n-f-l-a-ç-ã-o com “i”, apenas com um “c” (cedilhado) e nem o til foi esquecido ( era o que mais faltava!).

A obsessão deste estimado docente pela ortografia da língua Portuguesa de Portugal sacudiu o pó da minha memória, enquanto lia uma entrevista do responsável da Record ( editora brasileira ) que tem levado os romances de José Rodrigues dos Santos para o outro lado do charco. Dizia ele que a editora decidiu manter a ortografia original do português de Portugal nos tais romances. Poderei estar equivocado, mas acho que o mesmo se faz para os livros do Saramago no Brasil e do Jorge Amado na direcção inversa ( ortografia do português do Brasil).

De facto o Português é o único idioma com duas ortografias oficiais ( a de Portugal e a do Brasil). A reforma ortográfica tem sido adiada anos após ano, e parece que será em 2008 quando, finalmente, esta reforma será posta em marcha, já que nos acordos estabelecidos dentro da CPLP, basta o voto favorável de 3 dos 8 países para que a reforma seja aprovada. No Brasil já têm os trabalhos de casa feitos desde algum tempo, mas em Portugal, por ignorância de uns, teimosia de outros, respaldadas pela cumplicidade de quem manda e pela autoridade de velhos do Restelo, isto nem vai pra' frente nem para trás.

Somos 215 milhões de vozes a falar Português, mas com duas ortografias oficiais. Será tão difícil assim padronizar uma ortografia, como tem o castelhano por exemplo? Não temos de falar todos da mesma maneira o Português, nem é isso que se pretende. Se saio de Coimbra com uma nota de VINTE euros no bolso, quando chego ao Porto compro um café e o jornal com essa nota de BINTE... apanho o avião para São Paulo, e com o troco que me deram no Porto cambio por VINTCHI reais... Tampouco se pede ao Scolari que comece a chamar o pebolim por matraquilhos, o açougue por talho, as aero-moças por hospedeiras, o trem por comboio ( isso sim, Banco é Caixa!)... O que é necessário é uma ortografia padrão que dê mais força à nossa língua. É incrível que a terceira língua ocidental mais falada, não esteja incluída na lista de idiomas oficiais da ONU por haver duas ortografias oficiais, o que gera confusão?!?! É triste ver no Google, português ( de Portugal) e português ( do Brasil)... É economicamente desastroso que por não haver uma ortografia comum, os livros editados em Portugal tenham uma barreira para entrar no Brasil e vice-versa, apenas porque “acção” é “ação” ou “Egipto” é “Egito”. O exemplo do castelhano, neste capítulo, é tão mais eficaz e dá-nos uma lição.

Segundo alguns letrados, a reforma não é de todo a melhor, mas é um passo para a aproximação, "penso eu de que". Diz-se que a percentagem de palavras a alterar com esta nova reforma será entre 0,5% e 2% no caso brasileiro, e um pouco mais no caso português. Mas se miramos o historial de cedências, nas anteriores reformas sempre foram os brasileiros quem cederam...e não me venham com contos, porque eles são 170 dos 215 milhões que nos expressamos nesta língua. Ceder em nome da língua Portuguesa vale a pena.

Na opinião de Can Portugal é hora de ação ( escrita segundo a nova ortografia). E deixo aqui algumas das alterações que compõem esta reforma ( ver link da Folha de São Paulo) ... dando uma vista de olhos pelos media portugueses e brasileiros, parece ser que os portugueses, à semelhança dos responsáveis nacionais por esta reforma, têm feito mais o papel de morto, “deixa-me estar aqui quietinho, a ver se não acontece nada”... cá para mim, o único que acontecerá será um enfraquecimento da nossa língua, nosso grande património, será? Baseando-me na antiga ortografia, em que o "f" era um "ph"... Phosca-se para tanta demagogia!

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